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Comunidade sobrevive diante da problemática: poluição da baia e estuário |
Uma das mais antigas culturas tradicionais da história deste país está perdendo sua identidade, seu espaço - a cultura caiçara - o pescador brasileiro, que em muitos e muitos anos resistiu as pressões do mundo contemporâneo, resistiu a mudança de consumo, a mudança de hábito diante de um mundo mais industrializado, mais globalizado, cheio de tecnologias que ultrapassam as mais tradicionais formas e métodos de sobrevivência que nos mares, nos rios esteve sempre presente, de geração a geração, persistindo em muitos lugares que as vezes até o desenvolvimento não chegou. Neste caso, retratamos nesta notícia um modelo de ativismo pelo qual se tem muito respeito é de Seu Maurício, residente e natural de São Vicente, São Paulo, caiçara por natureza e 'kalunga' como dizem os vicentinos que nascem aqui.
Morador da Rua Japão, a mais conhecida do bairro, onde temos a praia do pescador, um ponto dos mais antigos da cultura caiçara da região. Sua luta dedicada a melhorias em sua localidade pelo qual carrega um valor histórico e cultural, pois se situa nesta baia de São Vicente o marco da pesca nacional, fazendo de Seu Maurício e seus companheiros vítimas de um problema que vem causando muito sofrimento e desolação - o lixo flutuante, descartado de forma inadequada em lugares próximos, seguindo o fluxo da maré, acaba vindo a acumular e poluir as praias, os rios e manguezais da baia vicentina, principalmente a 'praia do pescador'.
Entretanto, mesmo nessa situação, com sua total alegria e experiência, lutou e luta até hoje com seus companheiros, buscando diante do poder público, diante de programas, compondo a linha de frente da comunidade, representando sua cultura em Associações Comunitárias, Colônia de Pescadores, participou da formação da Agenda 21 Local de São Vicente, tentando de toda forma unir os envolvidos a tomar medidas de contenção, a criação de leis municipais importantes para a questão do descarte que causa o problema em sua praia, problema esse quase sem solução, que vem do lado da cidade, no bairro mais próximo de onde a infra-estrutura de coleta urbana é precária, pondo em questão os serviços de coleta urbana e seletiva do município. Na verdade é, o ponto de origem desses resíduos, alega Seu Maurício, é das moradias submersas - as palafitas, situada em uma área de preservação natural - o mangue, berçário da reprodução de espécies marinhas no que em muitas vezes acaba recebendo uma alta carga desses resíduos gerados por moradores.
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Sr. Maurício (à esq.) e companheiros de pesca da localidade |
A Praia do Pescador perdeu sua balneabilidade em muitos anos, desde o tempo de expansão dessas moradias, que irregularmente despeja seu lixo, resultando na poluição e ocasionando a perda de vida marinha, a perda de peixes a animais marinhos, pelo qual manteve sua cultura em ascensão durante anos, proporcionando a falta de renda de muitos pescadores inclusive do Seu Maurício.
Parece tão simples, mas em toda sua história de vida o que irá contar aos seus netos? Não serão histórias de pescador, que pescou dez tubarões com um só anzol ou uma baleia que fugiu ao lhe ver, pois seriam essas histórias das mais fictícias que vislumbra a mente ingênua de crianças da sua localidade, de sua família, pois na verdade é que Seu Maurício, irá contar o que fez e provavelmente qualquer pescador, amante da pesca e do mar faria, é poder lutar para salvar sua identidade, sua cultura e tradição, salvar sua identidade caiçara.
A região sofre, contudo isso, a poluição, a falta de peixe e pescadores que não conseguem mais ensinar seus netos, ou perdem esse laço, por muitas vezes tentarem buscar sua sobrevivência em outros lugares e outras profissões. Essa realidade, considerando um problema político associado as políticas de habitação e a gestão de resíduos gerados deram a esse cenário uma dimensão alarmante. 'Para os políticos não interessam a remoção ou mudança de tudo isso, gasta muito recurso público e dá trabalho, é o que me parece, pois eu me interesso junto aos meus colegas em salvar minha cultura, minha praia, a minha pesca, pois se foram os anos de glória da nossa comunidade que vive do mar.' Diz o pescador e ativista - Sr. Maurício.
O Ambiental WEB, por mais uma vez visa transmitir a essência de culturas que dependem dos recursos naturais e lutam para que sua cultura não seja apagada e passará a noticiar esse universo com o maior tom da verdade e precisão dos fatos, pois somente valorizando a vida e sua identidade cultural é que podemos proporcionar uma mudança e sensibilizar a sociedade para o caminho do consumo e produção sustentável e o bom uso de nossos recursos, mantendo sobre a mesma problemática a chama da causa ambiental e o respeito a vida e seus cidadãos, simples e capazes de transformar sua realidade.
Rodrigo Brandão Azambuja
ambiental web
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