domingo, 9 de outubro de 2011

Estudo Científico: Poluição de Resíduos Domésticos - descarte inadequado polui a baia vicentina.

Resíduos depositados pela maré em área de manguezal próxima às palafitas na região de Santos e São Vicente. © Cesar Cordeiro

Os manguezais estão espalhados em 112 países em todo o mundo, tendo uma cobertura de aproximadamente 18 milhões de hectares. No Brasil, contamos com pouco mais de 1,3 milhão de hectares ao longo da costa. E, 14 regiões metropolitanas, das 25 do país, encontram-se em áreas costeiras próximas a estuários, onde estão também os maiores portos e pólos petroquímicos do país.


Além da grande importância ecológica (berçários de peixes e crustáceos, área de alimentação e descanso de aves), tradicionalmente, a ampla utilização dos manguezais abrange atividades de extração de alimento (caça, pesca e cultivo de moluscos) e de madeira para diversos fins (lenha, extração de tanino, construção de casas e utensílios). 

Com a crescente ocupação humana em áreas de manguezais, muitas atividades comerciais vêm aumentando sua importância na exploração dos recursos estuarinos, no entanto, tais práticas ocorrem em escalas superiores às suportadas pelo ambiente, contribuindo em sua degradação.

Apesar da proximidade de grandes centros urbanos a esses ecossistemas e sua inerente fragilidade, poucos estudos ou ações de limpeza têm focado este ambiente, principalmente devido à dificuldade de acesso e de operação nessas regiões. 

Para tentar minimizar este hiato realizamos um estudo para quantificar e descrever os tipos de resíduos sólidos encontrados em manguezais do Complexo Estuarino Santos - São Vicente/SP, uma das áreas mais intensamente urbanizadas do litoral brasileiro, por onde passa aproximadamente 50% do PIB nacional.

Para a realização do estudo foram amostradas oito áreas ao longo estuário nas quais foram coletados os resíduos e caracterizada a vegetação. Além do histórico de pirataria nessas áreas, a facilidade de acesso e localização no estuário foram fatores determinantes no planejamento amostral.



Ao total foram recolhidos 2129 itens, com o peso de 207,5 kg. O peso total dos itens pode parecer pouco para a área amostrada. Contudo, os resíduos com grandes dimensões (sofás, colchões, portas, geladeiras e pneus) não puderam ser pesados no local e não foram incluídos nas análises.

O principal item observado em todas as áreas foi o plástico com 62,8% da abundância total, onde embalagens e sacolas plásticas contabilizaram 51,6% dessa fração. Essa contribuição maciça de itens plásticos não é uma surpresa, uma vez que já é uma das maiores preocupações em escala global. Diversos trabalhos realizados em praias já constataram resultados semelhantes e, o prognóstico em longo prazo não é otimista. A ampla utilização desses polímeros devido à sua versatilidade, baixo custo e durabilidade faz com que permaneçam com alto grau de inserção na sociedade moderna, tornando-os praticamente indispensáveis. 

Tais características também são o motivo pelo qual este tipo de resíduo é tão nocivo ao meio ambiente e, apesar de pesquisas sobre novos materiais, parece não haver nenhum substituto à altura num horizonte próximo.

Diferentemente das praias, em estuários, a ação de ondas e ventos tem pouca influência na distribuição dos resíduos. O principal fator é o fluxo das marés que age varrendo estas áreas, levando e trazendo itens de acordo com a flutuabilidade.

Assim, observando as características das áreas amostradas observamos as maiores quantidade de lixo acumuladas em áreas de baixa declividade. Esta informação é importante no direcionamento de futuras ações de limpeza, facilitando a escolha de áreas prioritárias.

Como observado por outros estudos, o acúmulo de resíduos pode causar problemas estéticos e trazer riscos à saúde de humanos e à biota local. 


Assim, são necessárias ações que considerem o problema dos resíduos despejados irregularmente em áreas naturais, tais como: estabelecimento de políticas educacionais e de conscientização com atividades direcionadas à diminuição do consumo; estabelecimento de programas locais de monitoramente e limpeza das áreas atingidas, auxiliando a mobilização da sociedade organizada; aumento da cooperação entre pesquisadores, sociedade organizada e governo, para a instalação de tais ações; e, regularização das áreas ocupadas às margens dos canais e implementação de serviços de saneamento básico nestas regiões.

**Cesar Cordeiro, biólogo marinho (UNESP), mestre em zoologia (UFPB) e doutorando em biologia marinha (UFF).  veja no link  <<<<


Rodrigo Brandão Azambuja
Ambiental WEB

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quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Estudo Cientifico: Caranguejos em São Vicente sofrem mutações devido a poluição.

Seu Anacleaute José daSilva se atraca com a toca de um caranguejo-uçá em mangue de São Vicente
  Estudo de Campo: Mangue em mutação - Giovana Girardi - UNESP CIÊNCIA - Setembro de 2010

Há pouco mais de três anos, o biólogo Marcelo Pinheiro estava trabalhando em seu então escritóriona coordenadoria do Campus da Unesp em São Vicente quando recebeuum chamado inusitado.  Um jornal local queria que ele avaliasse um estranho caranguejo-uçá que tinha sido encontradopor um morador da cidade.

Estudioso deste crustáceo desde o finaldos anos 1990, Marcelo se deparoucom algo que de fato nunca tinha visto:um animal com o quelípodo (a popularpinça) na forma de uma “mãozinha”. Aestrutura normalmente tem dois “dedos”, um móvel e outro fixo, mas no lugar deste nasceram cinco pontas.  

Caranguejo 'Mãozinha' tinha cinco pontas na parte fixa 
A análise posteriordo sangue do bicho mostrou que ele não era o “cruzamento de caranguejo com rã” que já povoava a imaginação do morador, mas uma mutação provocada por alguma contaminação. 

Algumas de suas células apresentavam, além do núcleo, vários micronúcleos. “Quando o animal está em estresse ambiental, ele produz essas estruturas,  mas ali encontramos a incidência de 11,5 células micronucleadas por mil analisadas, quando o normal é menos de 4.  Ou seja, a presença dessas células naquele indivíduo era quase três vezes maior que o esperado”, lembra Pinheiro. 


Ameaças : Lixo e vazamento de óleo
são alguns dos impactos sofridos . 
O achado fez o pesquisador questionar se aquilo era somente um evento isolado ou se os manguezais da região de São Vicente e Cubatão poderiam estar sofrendo os impactos dos despejos, que ocorreram no passado, de metais pesados e de outros poluentes no estuário. 



A ideia de investigar a presença dessas substâncias nos caranguejos, porém, ficaria suspensa até este ano. Enquanto estava na coordenação do campus (até 2009), Pinheiro não tinha muito tempo para fazer trabalho de campo, mas chegou a orientar dois trabalhos de conclusão de curso (TCC) de alunos da Biologia Marinha que corroboraram suas suspeitas. 

Um deles observou em caranguejos-uçá (Ucides cordatus) coletados em Cubatão uma incidência de células micronucleadas 2,5 vezes superior à encontrada em animais da Estação Ecológica Jureia-Itatins. 


O segundo estudo mostrou alterações genéticas nos caranguejos expostos a áreas que apresentavam uma maior concentração de metais pesados em São Vicente.



>>> leias mais no artigo em PDF 



Rodrigo Brandão Azambuja
Ambiental WEB 

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